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Não-Dualidade

Ao explorarmos a maioria das tradições religiosas e espirituais, encontramos, em sua essência, linguagens não-duais. Esse conceito não se limita ao Advaita Vedanta, ao Budismo ou ao Taoísmo, mas também está presente na tradição Cristã. Por exemplo, na Bíblia, encontramos ensinamentos não-duais como: "Eu e meu Pai somos um", além das palavras do místico cristão do século 12, Meister Eckhart, que afirmou: "Neste nascimento divino, descubro que Deus e eu somos o mesmo: sou o que sou e o que permanecerei, agora e para sempre." Na tradição Sufi, Balyani, no século 13, disse: "Quem conhece a si mesmo conhece seu Senhor." Isso nos mostra que há uma mensagem comum: não há separação entre você e Deus, entre você e a essência da realidade; em sua essência, você é a própria essência da vida.

Ainda não encontramos na nossa civilização a Paz, a Alegria e o Amor que tanto almejamos e que parecem tão próximos, mas, ao mesmo tempo, tão distantes. Por que isso acontece? As pistas foram deixadas ao longo dos séculos, e os mestres sempre nos ofereceram valiosas orientações. O lema "conhece-te a ti mesmo" está gravado em um templo em Delfos, na Grécia. O Poeta Sufi disse: "Se você pudesse se libertar de si mesmo, apenas uma vez, o segredo dos segredos se abriria para você. A face do desconhecido Oculto além do universo se refletiria no espelho da sua percepção." Essas pistas sempre estiveram à nossa frente, mas nosso foco não foi lembrar nossa Verdadeira Natureza. Em vez disso, buscamos substitutos para nossa Verdadeira Natureza em objetos, relacionamentos, conquistas, diplomas, práticas espirituais e religiosas, entre outros. Contudo, após centenas de anos, percebemos que falhamos na busca de encontrar a Alegria e a Paz fora de nós.

Até mesmo na espiritualidade e nas tradições religiosas, a Alegria e Libertação prometidas não foram efetivamente encontradas, principalmente porque o ego também pode se apropriar da espiritualidade. Assim como o ego busca completude em objetos materiais, ele também procura isso na própria espiritualidade e religião. Por isso, existem tantos movimentos espirituais que acabam por enfeitar e nutrir o ego, criando um ego espiritual, que não ajuda as pessoas a relembrar sua Verdadeira Natureza, mas desvia a atenção para mais conteúdos, criando mais ilusões.

Filósofos como Arthur Schopenhauer também nos deixaram pistas: "É difícil encontrar a felicidade dentro de si mesmo, mas é impossível encontrá-la em outro lugar." Na verdade, eu diria que não é difícil, pois a felicidade é imediata; é o que somos. No entanto, nossa atenção está voltada para o que não somos.

Só quando você, eu e cada um de nós relembrarmos nossa Essência Una, nossa Consciência Una, poderemos viver na Alegria, Paz e Amor que tanto desejamos. Não será apenas eu ou você que sentirá o impacto dessa relembrança, mas toda a civilização. Uma civilização onde as pessoas se conhecem e vivem na Consciência Indivisa será uma civilização que compartilha amor e compaixão. Abrimos os olhos e passamos a enxergar a vida de uma maneira diferente, não separada, não-dual, percebendo todos como expressões da mesma Consciência Pura em diferentes corpos e mentes. Esse presente já está ao nosso alcance; basta que queiramos. Para que essa relembrança ocorra, é necessária uma investigação sobre a natureza da mente, para realmente compreendermos a Realidade, não apenas intelectualmente, mas através da experiência. Somente quando experienciamos a Consciência, que é a natureza da Realidade, nos convencemos de que somos todos Um, que "Eu e meu Pai somos Um". É nessa Consciência que finalmente poderemos repousar na Alegria, na Paz e no Amor que tanto ansiamos.

 

O desejo de encontrar o Eu certamente se realizará, contato que você não queira outra coisa. Mas você tem que ser honesto consigo mesmo e realmente não querer nada mais. Se, enquanto isso, você quiser muitas outras coisas e se lançar em sua busca, seu objetivo principal talvez seja adiado, até que você se torne mais sábio e deixe de ficar dilacerado entre impulso contraditórios. Vá para dentro de si, sem hesitar, sem jamais olhar para fora.

Nisargadatta Maharaj

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